A safra de 2020 será recorde, pela
previsão do IBGE, mas o consumidor vai continuar pagando caro pela
carne. É que a produção de milho deve cair 7,2% e já há escassez do
grão, conta Enori Barbieri, vice-presidente da federação da agropecuária
de Santa Catarina (Faesc). O estado é o grande produtor de aves e
suínos, que se alimentam do cereal. O que vai garantir a safra recorde
de 243,2 milhões de toneladas de grãos é a colheita da soja, que deve
avançar 7,8%. O fim de 2019 já foi marcado pela alta das carnes. Havia a
expectativa de que o preço baixasse agora.
- Pode se acostumar que o preço da carne
vai ficar alto ao menos até julho. Se o clima não ajudar no começo do
ano, a pressão vai continuar até o fim de 2020 - avisa Barbieri.
Ele conta que a saca de 60 quilos de milho, que valia R$ 25 há um ano,
hoje é vendida pelo dobro. A cotação deve atingir os R$ 60 em Santa
Catarina neste primeiro semestre. A dieta de aves e porcos é composta de
70% de milho e 30% de soja.
O desequilíbrio começou em agosto.
Naquele mês as exportações de milho chegaram a 7 milhões de toneladas,
quando o normal era embarcar algo como 1,5 milhão/ton mensais. As
tradings aproveitaram a alta do dólar e fecharam negócios mundo afora.
Neste segundo semestre, a área plantada foi menor e houve uma seca no
Sul. O cenário agora é de escassez para os próximos meses.
Barbieri calcula que até julho a oferta de milho será de 20 milhões de
toneladas, e o Brasil precisará de cerca de 10 milhões de toneladas a
mais. É uma má notícia para a inflação. O preço da carne de porco, que
vinha pressionado pela demanda maior da China, agora sofrerá também com o
custo de produção maior.
Só em meados do ano o país vai colher
a maior parte da safra 100,6 milhões de toneladas de milho. O governo
não tem grandes estoques porque comprou pouco nos últimos três anos,
quando o preço ficou acima do piso. A solução será importar. O Paraguai
pode garantir 5 milhões de toneladas, mas a logística de transporte não
ajuda. A saída seria a Argentina. O problema ali é que o novo governo de
Alberto Fernández taxou as exportações do agronegócio e o milho
argentino encareceu. O grão de outros países tem um custo mais elevado
de frete.
Barbieri diz que a demanda chinesa pelos suínos
continuará forte em 2020. A expectativa de uma queda no preço das carnes
no começo do ano não deve se confirmar.