O déficit em transações correntes do
Brasil fechou 2019 em US$ 50,762 bilhões, alta de 22,2% sobre 2018 e no
pior dado em quatro anos, afetado pela queda do superávit comercial do
País, divulgou o Banco Central (BC) ontem. O maior rombo das contas
externas antes disso havia sido registrado em 2015, quando o déficit foi
de US$ 54,472 bilhões.
O buraco nas transações correntes em
2019 passou a 2,76% do Produto Interno Bruto (PIB), sobre 2,20% em
dezembro do ano anterior. Apesar da piora, ele seguiu coberto com folga
pelos investimentos diretos no país (IDP), que alcançaram US$ 78,559
bilhões no ano passado.
A expectativa do BC era de um déficit
em transações correntes de US$ 51,1 bilhões em 2019, mas com IDP um
pouco melhor, de US$ 80 bilhões.
Questionado se o aumento no
déficit era um motivo de preocupação, já que não foi acompanhado de uma
forte retomada da economia, o chefe do departamento de Estatísticas do
BC, Fernando Rocha, ponderou que não. "Esse aumento do déficit em
transações correntes, em valores nominais, foi de US$ 9,2 bilhões. E a
gente consegue identificar que a redução do superávit comercial
respondeu por US$ 13,6 bilhões desse aumento", disse ele.
A
autoridade monetária já havia justificado que as transações correntes
foram prejudicadas em 2019 pelo pior desempenho da balança comercial, em
um ano marcado pela desaceleração da economia na Argentina, peste suína
afetando a China e a demanda por soja brasileira, além da dinâmica
envolta em incertezas do comércio mundial em meio às tensões
protagonizadas por Estados Unidos e China.
O ano passado também
foi afetado por ruídos em relação aos números das transações correntes.
No início de dezembro, o governo anunciou uma correção para cima no
registro das exportações de setembro a novembro, atribuindo a uma falha
humana uma subnotificação de US$ 6,488 bilhões que havia ajudado a
piorar o resultado da balança comercial brasileira divulgado
originalmente.
Ao fim, o superávit da balança comercial
encerrou 2019 em US$ 39,404 bilhões, recuo de 25,7% sobre 2018, diante
de uma queda de 6,3% nas exportações e diminuição de 0,8% nas
importações, apontou o BC.
Para 2020, o BC prevê novo aumento
do déficit em transações correntes, para US$ 57,7 bilhões, mas desta vez
determinado principalmente por um aumento das importações, em meio a
uma aceleração da atividade econÒmica.
Em 2019, as remessas de
lucros e dividendos de multinacionais instaladas no Brasil caíram 14,8%
sobre o ano anterior, a US$ 31,126 bilhões. Esse foi o principal fator a
guiar a retração de 4,8% no déficit em renda primária, a US$ 55,989
bilhões.
Gastos no exterior - Na conta de serviços, houve
redução no ano tanto nos gastos líquidos de brasileiros no exterior, com
recuo de 5,4% frente a 2018, a US$ 11,681 bilhões, quanto nas despesas
líquidas de aluguel de equipamentos, que caíram 8,2%, a US$ 14,483
bilhões.
Fundamentalmente por conta desses dois movimentos, o
déficit em serviços diminuiu em 1,7% em 2019, a US$ 35,141 bilhões,
apontou o BC.
Em dezembro somente, o déficit em transações
correntes foi de US$ 5,691 bilhões, pior que a expectativa de um déficit
de US$ 4,5 bilhões, conforme pesquisa Reuters com analistas. A conta de
IDP alcançou US$ 9,434 bilhões, abaixo da projeção de US$ 11 bilhões.